Na cama
Eram 3:30 da tarde, um calor de matar, e os dois deitados na cama após algum tempo de bom sexo. Vitor deitado, nu, todo suado e relaxado. Vivian estava um pouco afastada dele, ainda ofegante e até animada depois de ter tido o “primeiro múltiplo” de sua vida.
- Como as coisas estão aqui na sua casa?
- A mesma coisa de sempre. Durmo 9 horas por dia, passo as outras horas bebendo, lendo ou transando com você.
- Não, isso não. Quero saber como está o clima por aqui.
_ Ah, isso? Você gozou três vezes e está mesmo preocupada com clima?
Ela riu brevemente e disse:
- Me preocupo com você, Vitor.
-Mas não precisa. Estou bem, eu juro.
-Me preocupo porque estou vendo a hora de você matar alguém, aqui, ou alguém matar você. Está conseguindo se dar bem com os seus pais?
- Como disse, a mesma coisa de sempre. Eles me dão comida e eu como. Eles me dão uma cama e eu durmo. Eles mal falam comigo, e eu agradeço.
- Consegue mesmo viver desse jeito?
Nesse momento Vitor se levanta, vai até o banheiro e dá uma mijada longa, que mais serviu para disfarçar o real estado em que ele fica quando toca nesse assunto com ela.
Vitor responde.
- Eles são seus pais e você não tem NADA que não seja deles ainda. Não dá pra viver assim! - Fala ela ainda deitada na cama.
Ele volta para o quarto, deita na cama ao lado dela, lembra que esqueceu de dar a descarga, mas ele já tinha deitado e não ia voltar pra lá.
- Olha, Vivi, tudo que eu quero é poder aproveitar o pouco tempo que tempos juntos. Acabamos de fazer poesia nessa cama, e você vem falar logo do assunto que você sabe que não está bem?
-É porque me preocupo...
Ele interrompe e grita enquanto se levanta:
-PUTA QUE O PARIU! PUTA QUE O PARIU! DE QUE ADIANTA ESSA PREOCUPAÇÃO DO CARALHO SE NADA VAI MUDAR? SÓ VAI ACABAR QUANDO EU MATAR AQUELE FILHO DA PUTA OU ELE FIZER ISSO COMIGO! ENTENDEU? SÓ ASSIM ACABA!
Ela já estava acostumada com os “ataques de raiva” dele e, ainda deitada, olhando-o de pé, fala de forma firme, mas ainda calma:
- Ótimo! Você é um cara de 21 anos, desempregado, sem perspectiva NENHUMA de vida, que resume a vida a me comer, dormir, assistir seriados e fumar maconha. Nossa, acho que achei o pai dos meus filhos...
- Então foda-se. - Ele diz - Quando nos conhecemos, não disse que ia ser o pai de nenhum melequento.
Nesse momento, Vivian se levanta da cama, começa a se vestir, lembra de fechar a cortina que estava aberta para que ninguém a visse nua, falando de forma acelerada:
- Você é um merdinha que se encontra em qualquer filme classe b, underground, sabia? O seu maior defeito é achar que vai ter 21 por toda a vida.
Vitor se joga na cama, dá uma coçada de leve nas bolas e lhe joga um olhar indescritível entre “compreensão e descaso”.
- A minha “perspectiva” acaba quando aquele filho da puta, ajudado pela servente que chama de mulher, corta todo e qualquer desejo meu que não seja DELES também. Prefiro “resumir” a minha vida a isso do que me frustrar buscando “algo mais”, e vendo que esse algo não chega para pessoas como eu.
- Pessoas como eu? O que quer dizer com isso?
- É, garota. Pessoas como eu mesmo. Você, apesar de ser crente - ele ri breve-, tem “papai e mamãe” que dão tudo o que a princesa quer. Pessoas como você aprendem idiomas, estudam nas melhores escolas e escutam algo mais que: “seja como for que seu pai esteja errado, é ele quem paga a sua comida, então cale a boca e aceite!”.
Vivian olha para Vitor de forma incrédula. Não sabe se está olhando para o cara que ela ama ou para algum personagem do Bukowski. Acaba de se vestir, senta ao lado dele na cama e fala enquanto mexe nos cabelos dele quase como uma mãe, só que mais divertida.
- O que eu vejo é um puta potencial sendo jogado fora porque deixou de acreditar em si mesmo. Vitor, você acha que “família” é só isso?
Ele senta na cama, franze a testa e fala quase que como um deboche:
- E o que mais então? Não é porque a sua família é “do senhor” que a todos são, não, minha filha. Não sou nenhum “menino do morro”, mas me fodo bem por aqui também. Simplesmente parei de querer ser o que sei que não sou. “Aceitei meu destino” de ser um merda. – Ironiza
- Porque tanta ironia com Deus? Quando cansou de culpar o seu pai você agora quer culpar Deus?
Vitor se levanta, olha para ela incrédulo e diz no mesmo tom de deboche:
- Deus? Sério? O grande pai que fode o meu cu, mas “sabe o que está fazendo”? Por favor, Vivian, pare de ir para o “momento dominical”, por favor. Se tem uma coisa que é certa é que, se Deus existir, ele odeia todos nós. Mas talvez goste da Suíça. -Desdenha
Vivian levanta, pega a sua bolsa e fala enquanto sai do quarto, já desistindo da briga:
- Tenho pena de você. Se isso é o melhor que você tem, vai ter uma bela vida como garoto de programa...
Vitor vai até ela, pega a bolsa de sua mão, joga no chão e leva a mão dela até o seu pênis, enquanto a faz acariciá-lo. Vivian começa a beijar ele devagar e beija-o ainda mais quando nota que Vitor está ficando de pau duro de novo. Em pouco tempo estão transando e ele pensa: “cada um dá o que tem, minha querida...”