quarta-feira, 9 de março de 2011

Na cama

Na cama

Eram 3:30  da tarde, um calor de matar, e os dois deitados na cama após algum tempo de bom sexo. Vitor deitado, nu, todo suado e relaxado. Vivian estava um pouco afastada dele, ainda ofegante e até animada depois de ter tido o “primeiro múltiplo” de sua vida.
- Como as coisas estão aqui na sua casa?
- A mesma coisa de sempre. Durmo 9 horas por dia, passo as outras horas bebendo, lendo ou transando com você.
- Não, isso não. Quero saber como está o clima por aqui.
_ Ah, isso? Você gozou três vezes e está mesmo preocupada com clima?
 Ela riu brevemente e disse:
- Me preocupo com você, Vitor.
-Mas não precisa. Estou bem, eu juro.
-Me preocupo porque estou vendo a hora de você matar alguém, aqui, ou alguém matar você. Está conseguindo se dar bem com os seus pais?
- Como disse, a mesma coisa de sempre. Eles me dão comida e eu como. Eles me dão uma cama e eu durmo. Eles mal falam comigo, e eu agradeço.
- Consegue mesmo viver desse jeito?
Nesse momento Vitor se levanta, vai até o banheiro e dá uma mijada longa, que mais serviu para disfarçar o real estado em que ele fica quando toca nesse assunto com ela.
Vitor responde.
- Eles são seus pais e você não tem NADA que não seja deles ainda. Não dá pra viver assim! - Fala ela ainda deitada na cama.
         Ele volta para o quarto, deita na cama ao lado dela, lembra que esqueceu de dar a descarga, mas ele já tinha deitado e não ia voltar pra lá.
- Olha, Vivi, tudo que eu quero é poder aproveitar o pouco tempo que tempos juntos. Acabamos de fazer poesia nessa cama, e você vem falar logo do assunto que você sabe que não está bem?
-É porque me preocupo...
Ele interrompe e grita enquanto se levanta:
-PUTA QUE O PARIU! PUTA QUE O PARIU! DE QUE ADIANTA ESSA PREOCUPAÇÃO DO CARALHO SE NADA VAI MUDAR? SÓ VAI ACABAR QUANDO EU MATAR AQUELE FILHO DA PUTA OU ELE FIZER ISSO COMIGO! ENTENDEU? SÓ ASSIM ACABA!
         Ela já estava acostumada com os “ataques de raiva” dele e, ainda deitada, olhando-o de pé, fala de forma firme, mas ainda calma:
- Ótimo! Você é um cara de 21 anos, desempregado, sem perspectiva NENHUMA de vida, que resume a vida a me comer, dormir, assistir seriados e fumar maconha. Nossa, acho que achei o pai dos meus filhos...
- Então foda-se. - Ele diz - Quando nos conhecemos, não disse que ia ser o pai de nenhum melequento.
         Nesse momento, Vivian se levanta da cama, começa a se vestir, lembra de fechar a cortina que estava aberta para que ninguém a visse nua, falando de forma acelerada:
- Você é um merdinha que se encontra em qualquer filme classe b, underground, sabia? O seu maior defeito é achar que vai ter 21 por toda a vida.
         Vitor se joga na cama, dá uma coçada de leve nas bolas e lhe joga um olhar indescritível entre “compreensão e descaso”.
- A minha “perspectiva” acaba quando aquele filho da puta, ajudado pela servente que chama de mulher, corta todo e qualquer desejo meu que não seja DELES também. Prefiro “resumir” a minha vida a isso do que me frustrar buscando “algo mais”, e vendo que esse algo não chega para pessoas como eu.
- Pessoas como eu? O que quer dizer com isso?
- É, garota. Pessoas como eu mesmo. Você, apesar de ser crente - ele ri breve-, tem “papai e mamãe” que dão tudo o que a princesa quer. Pessoas como você aprendem idiomas, estudam nas melhores escolas e escutam algo mais que: “seja como for que seu pai esteja errado, é ele quem paga a sua comida, então cale a boca e aceite!”.
         Vivian olha para Vitor de forma incrédula. Não sabe se está olhando para o cara que ela ama ou para algum personagem do Bukowski. Acaba de se vestir, senta ao lado dele na cama e fala enquanto mexe nos cabelos dele quase como uma mãe, só que mais divertida.
- O que eu vejo é um puta potencial sendo jogado fora porque deixou de acreditar em si mesmo. Vitor, você acha que “família” é só isso?
         Ele senta na cama, franze a testa e fala quase que como um deboche:
- E o que mais então? Não é porque a sua família é “do senhor” que a todos são, não, minha filha. Não sou nenhum “menino do morro”, mas me fodo bem por aqui também. Simplesmente parei de querer ser o que sei que não sou. “Aceitei meu destino” de ser um merda. – Ironiza
- Porque tanta ironia com Deus? Quando cansou de culpar o seu pai você agora quer culpar Deus?
         Vitor se levanta, olha para ela incrédulo e diz no mesmo tom de deboche:
- Deus? Sério? O grande pai que fode o meu cu, mas “sabe o que está fazendo”? Por favor, Vivian, pare de ir para o “momento dominical”, por favor. Se tem uma coisa que é certa é que, se Deus existir, ele odeia todos nós. Mas talvez goste da Suíça. -Desdenha
         Vivian levanta, pega a sua bolsa e fala enquanto sai do quarto, já desistindo da briga:
- Tenho pena de você. Se isso é o melhor que você tem, vai ter uma bela vida como garoto de programa...
         Vitor vai até ela, pega a bolsa de sua mão, joga no chão e leva a mão dela até o seu pênis, enquanto a faz acariciá-lo. Vivian começa a beijar ele devagar e beija-o ainda mais quando nota que Vitor está ficando de pau duro de novo. Em pouco tempo estão transando e ele pensa: “cada um dá o que tem, minha querida...”

domingo, 28 de novembro de 2010

Tem gente...


Tem gente...


Tem gente que vive com medo da morte,
Tem gente que morre com medo de viver;
Tem gente que sofre por aquilo que não veio
Tem que gente que sofre por aquilo que virá
Tem gente passando fome, vivendo nas ruas, matando a vida desgraçada que lhes foi dada;
Tem gente que rica que é tão pobre em tantas coisas...
A vida é difícil de se entender por toda a gente, uns perdem a saúde para ter dinheiro e depois perderam dinheiro para ter saúde, é difícil entender como tem gente que se acha alguma coisa esquecendo que no dia de sua morte ela será igual a de tanta gente...
Conheci tanta gente em toda a minha vida que me ensinou e tirou tanta coisa, que me mostrou como é difícil “ser gente”...
Tem tanta gente que é amiga da gente, é tanta gente que melhor nem conhecer...
Mas enquanto o mundo explode tem gente que planeja bombas em nome da paz;
Tem gente que mata em nome de Deus;
Tem gente que morre em nome dele;
E quanto mais gente acha que é difícil ser gente, a gente se vê nesse mundo explosivo, porque tem tanta gente...

domingo, 21 de novembro de 2010

Manifesto Cósmico-Surrealista

Manifesto Cósmico-Surrealista

Aguardem, senhoras e senhores,
pois neste momento
a poesia está nascendo.
Não! O seu parto não acontece sem dores!
O seu alcance, o seu significado,
não difere muito, ou melhor, não difere em nada
do sagrado momento
em que um ser humano vem ao mundo.
Cada poema é um ser, um fato desconcertante,
um demônio angelical que se liberta do poeta
para invadir a mente coletiva.
E você, poeta!
Este ser estranho e ameaçador
que ousa desvirtuar a ordem do mundo.
Quem é você, poeta?

"Eu sou o deus Shiva dançando na roda de fogo!
Eu sou Dioniso, o deus das orgias sagradas e do vinho,
provocando o necessário êxtase nos corpos livres e humanos!
Eu sou o próprio sangue das estrelas
encarnado em forma humana
e, se há alguma mensagem a ser trazida
pelos seres dos outros planetas,
a única mensagem é esta:
Nas estrelas está o segredo da origem do homem.


Como um raio que irrompe do seio das tempestades,
o poeta é um objeto demolidor não identificável
a derrubar velhos preconceitos sociais,
a destruir falsos valores morais.
E você? Por que se assusta comigo?
Por que foge ao me encontrar?
E eu respondo: "porque eu sou livre demais para você"


Ah, se eu pudesse, quando bem quisesse,
enforcar e estrangular o pesadelo de viver como homem-máquina,
preso a uma sociedade devidamente maquinada
que obedece mecanicamente às grandes bestas do apocalíptico poder
político-militar-econômico-religioso-familiar-moral-social-racial-grupal-tribal-banal-
-etecétera-e-tal... Foda-se, porra!
Como é que podem estes homens sofridos e dementes
maquinarem um jeito de melhor satisfazerem
a felicidade dos que os destroem?
Mas eu me recuso a aceitar estas malditas máscaras sociais!

Eu sou nascido da Água, da Terra, do Ar e do Fogo!
Eu sou Carne, Osso, Alma e Tesão!
Eu me recuso a ser uma peça a mais
a servir a máquina do sistema,
peça devidamente registrada e catalogada
em números de CIC-CPF-Reservista-RG!
Não quero fazer parte de nenhuma seita ou filosofia ortodoxa
nem vou aceitar que babacas venham dizer belas bobagens no meu ouvido.
Por isso, não tente fazer a minha cabeça
porque a mim ninguém converte!
Sou um poeta!
Quimicamente, um radical.
Matematicamente, uma incógnita.
Rigidamente descontrolado.
Conscientemente pirado.
Socialmente, não identificado COM NADA!
Eu rio. Eu rio com Bacos-sorrisos
e o meu ser inteiro em cócegas desaba
sobre o mundo que se acaba
sem nunca haver começado, enfim.
Da ponta do chicote, extraio a minha poesia.
Minha raiva criativa distorce a retidão das palavras,
corretas demais para o meu gosto.
O desejo é a fome
e os raios do orgasmo são a alegria
do ser que, eletricamente,
provoca choques nos corpos em movimento ritual.
E o ser elétrico
eletricamente dança,
fechando circuitos de fogo
nas linhas da vida.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Quem sou eu?


                                                     Quem sou eu?

Eu sou tantas pessoas que nem todas se conhecem,
Eu sou tudo que me faz rir e tudo que me envergonha também,
Eu sou o melhor dos erros pra tanta gente, e a pior das extravagâncias da juventude
Pois bem, esse sou eu, apenas errando, apenas sorrindo, e ainda fingindo ser eu...
Mas quem sou eu?um erro do passado, uma tristeza do presente, um amor de um “eterno futuro” que na verdade nunca houve, ou apenas uma eterna tentativa?
Eu sou o taurino “EU” que grita mais alto que muitos, mas nem sempre sou eu, as vezes sou o leonino que só queria aparecer e teimosamente me veio de ascendente.

Apenas eu com todos nós juntos lutando contra todos vocês!
Cada palavra que nós transferimos tem seu veneno, pesado, medido e devidamente testado,
È uma pena que quando eu (sendo todos nós) as vezes envenenamos a nós mesmos sem notar...
Pois bem, já sabe quem somos e você quem é?

domingo, 14 de novembro de 2010


Um dia depois do suicídio

Um dia após o suicídio e as coisas estão tão normais...todos conversando do mesmo jeito, tocando os mesmos cansativos assuntos, amanhã já vão ser dois dias e ninguém ficou ao menos triste. Minha mãe já não me olha do mesmo jeito, meu pai, bem esse nunca olhou...
È tão difícil crer em Deus quando se está morto, não pelo óbvio, mas estar morto dessa forma é se negar, acho que por isso nada mudou, virei apenas a massa de manobra que tanto queriam e tanto relutei.
Perder quem se ama não é NADA comparado a perder si próprio, não é nada como perder sua dignidade, não é nada do que sobrepujar tudo aquilo que crê, e já nos dói tanto não é?agora imaginem perder todas essas outras coisas...
            Voltando ao suicídio, jurei que quando o fizesse seria algo mais “pomposo”, mais “marcante” mas nada mudou, as lutas são as mesmas em vão, a ditadura agora é chamada de democracia (nome até mais bonito), a depressão hoje é chamada de frescura e a dignidade de “ser novo demais pra entender as coisas”. Nada mudou, só mais um que se suicidou, que perdeu a guerra contra a humanidade, mais um que cansou de ser “o exercito de um homem só” para pode pastar como a grande maioria.
            Um dia após o meu suicídio e agora já não me sinto mal em mendigar atenção ou o mínimo de qualquer coisa para viver, ou melhor, sobreviver, ainda uso as palavras do tempo que estava vivo...
            Bem, agora é só restar pra não perder a “vida real”, já que a vida eu mesmo fiz questão de tirar para poder viver aqui, mas no dia que morri,isso fez diferença....