Manifesto Cósmico-Surrealista
Aguardem, senhoras e senhores,
pois neste momento
a poesia está nascendo.
Não! O seu parto não acontece sem dores!
O seu alcance, o seu significado,
não difere muito, ou melhor, não difere em nada
do sagrado momento
em que um ser humano vem ao mundo.
Cada poema é um ser, um fato desconcertante,
um demônio angelical que se liberta do poeta
para invadir a mente coletiva.
E você, poeta!
Este ser estranho e ameaçador
que ousa desvirtuar a ordem do mundo.
Quem é você, poeta?
"Eu sou o deus Shiva dançando na roda de fogo!
Eu sou Dioniso, o deus das orgias sagradas e do vinho,
provocando o necessário êxtase nos corpos livres e humanos!
Eu sou o próprio sangue das estrelas
encarnado em forma humana
e, se há alguma mensagem a ser trazida
pelos seres dos outros planetas,
a única mensagem é esta:
Nas estrelas está o segredo da origem do homem.
Como um raio que irrompe do seio das tempestades,
o poeta é um objeto demolidor não identificável
a derrubar velhos preconceitos sociais,
a destruir falsos valores morais.
E você? Por que se assusta comigo?
Por que foge ao me encontrar?
E eu respondo: "porque eu sou livre demais para você"
Ah, se eu pudesse, quando bem quisesse,
enforcar e estrangular o pesadelo de viver como homem-máquina,
preso a uma sociedade devidamente maquinada
que obedece mecanicamente às grandes bestas do apocalíptico poder
político-militar-econômico-religioso-familiar-moral-social-racial-grupal-tribal-banal-
-etecétera-e-tal... Foda-se, porra!
Como é que podem estes homens sofridos e dementes
maquinarem um jeito de melhor satisfazerem
a felicidade dos que os destroem?
Mas eu me recuso a aceitar estas malditas máscaras sociais!
Eu sou nascido da Água, da Terra, do Ar e do Fogo!
Eu sou Carne, Osso, Alma e Tesão!
Eu me recuso a ser uma peça a mais
a servir a máquina do sistema,
peça devidamente registrada e catalogada
em números de CIC-CPF-Reservista-RG!
Não quero fazer parte de nenhuma seita ou filosofia ortodoxa
nem vou aceitar que babacas venham dizer belas bobagens no meu ouvido.
Por isso, não tente fazer a minha cabeça
porque a mim ninguém converte!
Sou um poeta!
Quimicamente, um radical.
Matematicamente, uma incógnita.
Rigidamente descontrolado.
Conscientemente pirado.
Socialmente, não identificado COM NADA!
Eu rio. Eu rio com Bacos-sorrisos
e o meu ser inteiro em cócegas desaba
sobre o mundo que se acaba
sem nunca haver começado, enfim.
Da ponta do chicote, extraio a minha poesia.
Minha raiva criativa distorce a retidão das palavras,
corretas demais para o meu gosto.
O desejo é a fome
e os raios do orgasmo são a alegria
do ser que, eletricamente,
provoca choques nos corpos em movimento ritual.
E o ser elétrico
eletricamente dança,
fechando circuitos de fogo
nas linhas da vida.
De looooooonge, o melhor teu que já li! :D
ResponderExcluirAdoro "Manifesto"! Digno de prêmio (como já foi em concurso aqui na cidade). Boa ideia postá-lo aqui, gatinho.
ResponderExcluirEdu, vc está superando minhas expectativas! O texto é mto bom. O homem na sociedade morta de hoje em dia e a liberdade da poesia e do poeta. PARABÉNS!
ResponderExcluirMenino, ficou muito bom. Parabéns poxa. Adorei o "... que obedece mecanicamente às grandes bestas do apocalíptico poder
ResponderExcluirpolítico-militar-econômico-religioso-familiar-moral-social-racial-grupal-tribal-banal-
-etecétera-e-tal... Foda-se, porra!"
bb, o que você fez???
ResponderExcluirIsso foi muito bom, mágico...sem palavras Du, sem nenhuma palavra.
Adorei, muito bom messsmo.
Beijo grandioso para alguém também grandioso.
Um dos melhores textos que já li, muito bom o uso da lingüística misturado com a história extraindo por fim um grito de liberdade.
ResponderExcluirLiberté, égalité, fraternité :)
Um belo poema branco. =)
ResponderExcluirparabéns,belo poema
ResponderExcluirBelíssimo, Du. Amei o modo marginal. E falando em marginal, já leu Ana Cristina Cesar? Leia! A rainha dos marginais.
ResponderExcluirVey, acabei de debater contigo as sensações que esse poema me causou ao ler, mas não poderia deixar aqui em branco e dizer que tenho admiração por ti. Ao lê-lo me fez transportar para um mundo em que o único EU não fosse o suficiente para demonstrar a infinitude de sensações que o próprio corpo me causa. Sou ar, sou mar, sou tudo, sou nada. Sou suficiente.
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